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Quem inventou o jazz? Uma história com cafetões, mitos e verdades duvidosas

Louis Armstrong / Foto: Getty Images
Louis Armstrong / Foto: Getty Images

Diz-se que o jazz nasceu nos Estados Unidos, como resultado da intricada fusão entre as tradições musicais da Europa e da África. Mas sua certidão de nascimento segue sendo motivo de disputa — e recheada de boas histórias.


Jelly Roll Morton, pianista creole nascido em New Orleans, exímio intérprete de ragtime e blues — e cafetão nas horas vagas —, afirmava ter criado a palavra jazz em 1902, quando tinha apenas 12 anos. É verdade que o termo já circulava como gíria entre os negros americanos no final do século XIX, associado a movimento, energia e, segundo algumas versões picantes, ao próprio orgasmo. Há quem diga que a expressão jasm ou jass derivava diretamente desse duplo sentido.


Ignorando Morton, os programas de rádio americanos da década de 1930 atribuíam a criação do jazz a W.C. Handy, cornetista e pianista que, em 1912, publicou a icônica Memphis Blues. Suas partituras foram vistas por muitos como o ponto de partida oficial do gênero.


Enquanto isso, os integrantes brancos da Original Dixieland Jazz Band não tinham qualquer pudor em assumir o papel de inventores do estilo. Liderados pelo cornetista ítalo-americano Nick LaRocca, fizeram tanto sucesso entre New Orleans, Chicago e Nova York que, em 1917, gravaram o primeiro disco de jazz da história, pela Victor Phonograph Company. Venderam mais de três milhões de cópias — um feito monumental para a época — e se tornaram, de fato, grandes divulgadores do gênero. Mas criadores, nunca foram.


No fundo, para o público, pouco importava quem havia sido o primeiro a ligar a palavra jass àquela sonoridade ou quem teria tido a epifania definitiva de declarar: “É isso! Este é o jazz!”. Desde o início, o gênero nunca seguiu regras claras. O jazz apropriou-se das estruturas de todas as escolas musicais que evocavam ritmo, emoção, sofisticação, técnica e liberdade. E talvez seja mais sábio ouvir Louis Armstrong, que ao ser questionado por um jornalista sobre o que era, afinal, o jazz, respondeu com um sorriso:


“Se você precisa perguntar, então nunca saberá.”

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