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O dia em que Duke e Count me convidaram a gostar de jazz

Count Basie e Duke Ellington durante a gravação de The Count Meets the Duke
Count Basie e Duke Ellington durante a gravação de The Count Meets the Duke

Onde e quando começa o jazz para alguém é algo difícil de determinar. O momento da descoberta é algo muito pessoal.

 

Só posso falar do meu caso e do primeiro disco de jazz que realmente ouvi: First Time! The Count Meets the Duke, o grande encontro das big bands de Count Basie e Duke Ellington, gravado em julho de 1961 e lançado em fevereiro de 1962 – com a orquestra de Basie no canal esquerdo do estéreo e a de Duke no canal direito.

 

Relançado no Brasil, esse álbum apareceu em casa sei lá como quando eu tinha uns 15 anos. Sei lá como. Ninguém da família era jazzista. O mais perto que chegava-se do gênero era com os discos de Elis Regina acompanhada por César Camargo Mariano.

 

Aos 15 anos, talvez ninguém vire jazzista. Eu, pelo menos, não. Nem tinha ouvido para isso. Mas a dobradinha Duke & Count plantou as sementes que deram frutos quase 20 anos depois.


Por volta de 1999 e 2000, mergulhei num curso quase autodidata (claro que pesquisando pra não comprar nada a esmo) de jazz – porque estava cansado e enjoado de rock numa fase meio complicada da vida.

 

E o que me impressionou na adolescência no disco dos dois nobres do jazz foi o que busquei e gostei mais na minha fase inicial de conversão ao jazz num fim de milênio.

Foto: reprodução
Foto: reprodução

 “Battle Royal”, a faixa de abertura do álbum, tinha praticamente tudo. Pianos cool dos dois mestres, revezamento de solos de saxofones, trompetes e clarinete, e solo de bateria no encaminhamento para o encerramento.

 

Num disco excepcionalmente bem gravado pelos engenheiros de som da Columbia, dá para ouvir tudo com nitidez. Assim, as batidas ritmadas na caixa nesse quase final de “Battle Royal” me hipnotizaram na primeira vez que ouvi.

 

Ritmo com bastante swing (não só da bateria, como do contrabaixo) é algo que sempre me atraiu. E maestria nas baquetas e tambores é algo que admiro.

 

Meu gosto por Art Blakey, Max Roach, Jo Jones, Philly Joe Jones, Elvin Jones e Tony Williams deve muito ao que Sonny Payne (da banda de Basie) e Sam Woodyard (da banda de Ellington) fizeram naquele álbum. Especialmente em “Battle Royal”.

 

Não fiquei só na faixa de abertura. Quase subliminarmente, a suavidade de “To You”, as sutilezas da versão de “Take the ‘A’ Train”, o clima de selva desbravada de “Wild Man” e o swing de “Jumpin’ at the Woodside” ficaram em gestação dentro do meu cérebro por anos. Sempre que identifiquei algo com o mesmo sabor, gostei instantaneamente.

 

First Time! The Count Meets the Duke é uma relíquia de uma época em que Duke Ellington, já mais que consagrado como mestre do jazz desde a década de 1930, se empenhou em fazer vários álbuns em parceria. Muito para não deixar seu som fossilizar.


Ele já tinha feito álbuns em parceria antes, mas intensificou a prática no começo dos anos 1960. Primeiro, fez com Louis Armstrong Recording Together for the First Time em 1961. O seguinte foi o já citado LP com Count Basie.


" Mas nada dessas parcerias foi tão bombástico quanto o encontro de Duke com Count "

Marcelo Orozco


Depois ele gravou três parcerias em 1962 que só foram lançadas no ano seguinte. Money Jungle, soberbo álbum formando um trio com Charles Mingus no contrabaixo e Max Roach na bateria, saiu praticamente junto de Duke Ellington & John Coltrane, com a releitura maravilhosa de “In a Sentimental Mood”, originalmente lançada por Duke em 1935 e executada com muita alma por Coltrane.

 

O terceiro dessa safra foi um com o saxofonista Coleman Hawkins, com formação de combo básico, sem big band.

 

A ideia das parcerias começou a ficar gasta. Até 1967, ainda viriam outro LP com Louis Armstrong com sobras da primeira sessão deles e dobradinhas com Ella Fitzgerald, Alice Babs e Frank Sinatra.

 

Count Basie também fez discos em parceria nessa época. Um com Sarah Vaughan em 1961, três com Frank Sinatra entre 1962 e 1966, um com Tony Bennett em 1962 e um com Ella Fitzgerald em 1963.

 

Basie ainda faria outros com Sammy Davis Jr., Arthur Prysock, The Mills Brothers e Jackie Wilson até a década acabar.

 

Mas nada dessas parcerias foi tão bombástico quanto o encontro de Duke com Count, que recebeu quatro de cinco estrelas da revista DownBeat em maio de 1962. E recebe agora cinco estrelas de mim mesmo quando olho para tudo que ouvir esse LP na adolescência me proporcionou de bom.

 




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