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Entre o spiritual e o jazz modal, Sinsuke Fujieda lança seu melhor álbum

Atualizado: 7 de ago.


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A adoração e aceitação dos japoneses pelo jazz é forte evidencia do quanto o gênero é universal. Mais do que simples emulação do que é feito dos Estados Unidos, muitos músicos japoneses deram sua perspectiva, sua visão do gênero e contribuíram com sua própria tradição. Seja tocando instrumentos já consagrados, como piano, trompete ou saxofone, seja englobando outros típicos de sua cultura, como a shakuhachi (espécie de flauta de bambo), o jazz japonês absorveu e foi absorvido, rendendo agradáveis descobertas.


O saxofonista Sinsuke Fujieda é uma das melhores delas, entre as mais recentes. Baseado em Tóquio e pouco conhecido fora do país, o músico está lançando seu melhor álbum e, finalmente, chamando a atenção que merece.


Fukushima traz Sinsuke liderando um sexteto que conta com Fumiko Takeshita no violino, Shinichi Tsukamoto no piano, Shigeru Kato no baixo, Kensaku Ohsumi na bateria e Daisuke Alkhaly na percurssão, que navega entre o jazz modal e o spiritual jazz, mas nunca de maneira óbvia.


A faixa título, com o mesmo nome do disco, já deixa isso claro de início. Começa com uma levada no piano que remete ao jazz modal sessentista, entra o saxofone de Sinsuke que mantem a melodia. Até aí, não há nada de arrebatador ou fora do padrão de uma boa música, mas é então que vem a grande sacada da formação liderada por Sinsuke: no segundo chorus, além do saxofone, Fumiko Takeshita entre com seu violino como uma voz cortante na mesma melodia, abrindo espaço para o improviso do líder da banda. E em menos de 2 segundos, sabemos que estamos diante de um grande disco.


Depois é a vez de “Float in Oriental Spring”, com uma introdução que já anuncia um spiritual jazz onde a melodia remete mais à música oriental, sempre com o violino trabalhando mais como uma voz do que um instrumento de cordas. O diálogo entre os instrumentos anuncia uma sobreposição de vozes que é surpreendente quando cada um solo isolado, com a saxofone se contrapondo ao lirismo do violino.


Lirismo é a palavra certa para a música seguinte, “Silent Night”. Com um groove delicado mantido pela excelente banda, Sinsuke sola com fluidez e de novo, em seu momento, o violino de Fumiko alça seu voo de maneira mais melancólica do que nas faixas anteriores para culminar no solo de piano de Shinichi Tsukamoto.

Se há algo que marca todo o disco, é a forte coesão entre as faixas, como se a ordem entre elas fosse importante para anunciar o que se segue. Dessa forma, o tom melancólico que já foi anunciado na anterior, ganha destaque em “Nobody Knows”, a que poderíamos chamar de “a balada do disco”, mas que vai ganhando um tom ensolarado conforme avança. Aqui, ela entra de maneira tão orgânica à sequência do que se está ouvindo que nos damos conta da unidade que os temas formam.


Para fechar, a curta “Perspective” mantém o sol entre as notas do grupo, fechando o disco com a sensação de que a esperança e a beleza caminham de mãos dadas nas cerca de 40 minutos que dura Fukushima.


Fukushima

Sinsuke Fujieda Group

SoFa Records

Nota 9,5


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